Riqueza sobre sangue: Os roubos e as matanças dos grandes colonizadores


O desenvolvimento da expansão marítima europeia que se deu a partir do século XV permitiu que diversas partes do mundo passassem a se relacionar de forma mais constante, em um processo que para muitos estudiosos se caracterizou como um primeiro estágio da globalização, tão evidente nos dias atuais. As relações comerciais se ampliaram, as civilizações se confrontaram e as trocas culturais ficaram ainda mais intensas. 

Embora tais inter-relações tenham se fortalecido em boa parte do cenário mundial, elas ocorreram destacadamente em favorecimento dos conquistadores europeus. Portugal e Espanha, pioneiros nessa aventura marítima, ampliaram suas áreas de influência por diversas regiões do além-mar. Os continentes africano e asiático, já conhecidos pelos europeus, tiveram suas riquezas ainda mais exploradas, abrindo-se novas rotas comerciais que ligavam seus mercados à Europa ocidental.

Entretanto, foi na América que a ação colonizadora europeia certamente mais se consolidou. A chegada da frota de Cristóvão Colombo à América Central representou apenas o marco inicial da dominação do novo continente pelos europeus. A partir de então, iniciava-se um violento processo de colonização, que levou à exploração e aculturação da população ameríndia.

Estima-se que no início do século XVI a população americana aproximava-se de 50 milhões de pessoas, as quais eram divididas em inúmeros povos que falavam cerca de 2500 idiomas distintos. Só no Brasil, existiam cerca de cinco milhões de indígenas quando os portugueses aqui chegaram.  Com a chegada da primeira leva  de europeus, logo no primeiro século, a população indígena foi reduzida a quatro milhões. As doenças trazidas pelos europeus, a fome, a superioridade militar do colonizador e o trabalho forçado foram os principais fatores para tal genocídio.  

Atualmente, no Brasil,  são cerca de 450 mil indígenas distribuídos por todo o território brasileiro. Ou seja, de cinco milhões, no século 16, temos hoje apenas 450 mil pessoas indígenas, conforme a Funai.

O sistema de exploração utilizado estava inserido na política mercantilista então adotada pelas potências absolutistas europeias. Através do “pacto colonial”, ficavam estabelecidas as condições que proporcionavam às metrópoles a “exclusividade” sobre os negócios coloniais. Por mais que os colonos frequentemente corrompessem o monopólio metropolitano (através do contrabando), boa parte da produção colonial tinha como destino os cofres europeus, o que possibilitou o enriquecimento do Velho Mundo em prejuízo do continente americano.

Os colonos que chegaram com Martim Afonso de Souza, trouxeram as primeiras mudas de cana-de-açúcar que foram plantadas em 1553 na capitania de São Vicente. Em pouco tempo o açúcar passou a ser a mais importante atividade comercial da colônia, superando a extração de pau-brasil. Mas o início da produção da especiaria pelos holandeses em suas colônias nas Antilhas fez o preço do produto brasileiro ter uma queda de 50% nos mercados internacionais, fazendo com que o governo português passasse a incentivar mais veementemente a busca por ouro, encontrado apenas no final do século XVII por bandeirantes paulistas em Minas Gerais.

Nos primeiros 70 anos do século XVIII o Brasil produziu mais ouro do que toda a América espanhola em 357 anos. Essa produção correspondeu a 50% de todo o ouro mundial entre os séculos XV e XVIII. Mas grande quantidade desse minério transferiu-se para a Inglaterra, com quem Portugal tinha grande dívida e grandes negócios, além de comprar dos ingleses toda a tecnologia de que precisava, perdendo assim a oportunidade de se desenvolver.

Portugal foi também o país que mais traficou pessoas da África para as Américas. Escravizou os povos das ex-colônias e manteve um intenso e massivo tráfico de escravos, primeiro para o Brasil e, posteriormente, para o sul dos Estados Unidos e Cuba. Entre 1501 e 1875, o tráfico português de escravos para o Brasil atingiu 5.848.266 pessoas, um número superior ao tráfico promovido pela Espanha (1.061.524), Grã-Bretanha (3.259.441) e Holanda juntos (554.336).


Continente Africano

Mesmo que os continentes africano e europeu já realizassem trocas das mais diversas, foi apenas com o início das navegações e do interesse econômico europeu no desenvolvimento de impérios coloniais que a colonização do território africano entrou em cena. Essa colonização acabou fortalecendo a visão de que a Civilização Ocidental seria um marco de superioridade no mundo, em oposição às outras “raças”. Com isso, acabou-se gerando o silenciamento e apagamento histórico de várias partes do mundo, especialmente da África. 

Uma das principais ações coloniais da Europa no continente africano foi o que se convencionou chamar de a "partilha da África". Essa partilha ignorou as delimitações territoriais dos espaços políticos pré-coloniais existentes na África. A ação foi fruto da Conferência de Berlim, que ocorreu entre 1884 e 1885, sendo conduzida pelo antigo chanceler alemão Otto Von Bismarck (1815-1898). Ao fim da conferência e com os seus desdobramentos, países como a Inglaterra, França, Portugal, Itália, Alemanha, Espanha e Bélgica haviam dividido entre si o continente africano, em territórios coloniais sobre a sua hegemonia.

A divisão que, apesar de aceita pelas potências da época, gerou revoltas e as mais diversas resistências por parte dos povos africanos que não aceitavam ficar sobre o jugo e poderio europeu. E foi a partir daí que a Alemanha se estabeleceu como poder colonial na África. E como a história tem revelado, uma das principais formas de imposição da ordem europeia no continente, se deu por meio do uso da força.

Em 1904, na região da Namíbia (terra povoada até então por duas grandes etnias: os Herero e os Nama), os alemães residentes usaram da força na tentativa de controlar o que supostamente seria uma revolta. Autorizados pela metrópole, foi dado início ao massacre que durou quatro anos e matou ao menos 80% dos hereros e cerca de 10% dos manas – totalizando cerca de 100 mil pessoas mortas. O fato resultou num dos primeiros genocídios do século XX.

Além das mortes, as terras que pertenciam aos namas e os hereros foram tomadas por colonos alemães, que até hoje possuem o controle sobre elas e aqueles capturados, mas não mortos, foram destinados a uma das primeiras experiências com campos de concentração do século XX e subjugados ao trabalho escravo. O genocídio em Ruanda, por sua vez, ocorreu 90 anos após os acontecimentos na Namíbia e terminou com a morte de cerca de 800 mil pessoas.

Em 1919, com o fim da Primeira Guerra Mundial, enquanto a Alemanha perdia o controle sobre as suas colônias africanas, países como a Bélgica passaram a obter o controle de mais territórios no continente. Desta forma, Ruanda passou a ser de domínio belga. E assim como a Alemanha, a Bélgica usou da força para controlar o seu novo território. Sua principal estratégia de dominação foi colocar as duas principais etnias do território em uma constante disputa: os Hutus e Tutsis. Mesmo após a independência de Ruanda da antiga colônia, a disputa continuou a se perpetuar dentro do território até abril de 1994.

Quando se fala desses dois genocídios, em se tratando da comunidade internacional, pode-se afirmar que essa nada fez para impedir que eles ocorressem; as práticas coloniais, que inclusive incentivam o uso da força dos europeus contra os africanos, eram em muito defendidas, e as disputas entre as etnias africanas, como os Hutus e Tutsis, por mais que estivessem sendo incentivadas por interesses externos, eram vistas por essa comunidade como uma disputa entre povos inferiores e não civilizados.

A responsabilidade por esses genocídios é daqueles que mais se beneficiaram dessas mortes: os países colonialistas europeus. E é justamente por conta dessa disputa de interesses que, em termos gerais, relembramos que a descolonização da África não foi fruto da bondade europeia, mas sim de lutas empreendidas pelos povos africanos contra o poder colonial.

Ainda hoje o continente africano tem enfrentado diversos desafios em torno do desenvolvimento dos seus Estados e povos. É necessário relembrar que não se pode falar das lutas por liberdade do século XX sem mencionar as dos países africanos contra as suas antigas colônias europeias e, consequentemente, contra os regimes de segregação que existiam dentro do continente, como no caso da luta contra o apartheid na África do Sul.


Ásia

Na Ásia o Imperialismo  ocorreu ao longo do século XIX quando potências europeias, o Japão e os Estados Unidos deram início às ocupações. A expansão para a Ásia se deveu a fatores econômicos como a garantia de matérias-primas para as indústrias, mercado para os produtos e ideológicos como "civilizar" estes povos. 

A ocupação das Índias, nome genérico para as terras "descobertas", começou durante a chamada Revolução Comercial ocorrida entre os séculos XV e XVII. Desta maneira, estavam garantidos produtos como as especiarias, porcelanas e toda gama de mercadorias que não se encontravam na Europa.

Os portugueses foram os primeiros europeus autorizados a constituir portos em certas regiões da Índia, China e Japão. No entanto, com a Revolução Industrial, o cenário econômico europeu mudou. Com o surgimento das fábricas, se produzia mais e se necessitava mais matérias-primas. Ao mesmo tempo, era preciso menos mão de obra e o desemprego aumentou.

Dessa maneira, nações industrializadas como França e Inglaterra serão as novas protagonistas da conquista imperialista aos países asiáticos. Nesse contexto, Inglaterra, França e Holanda foram ocupando territórios na África e na Ásia. Mais tarde, o Império Alemão também se lançaria à conquista de regiões por estes continentes.

Igualmente, o Japão aproveita para invadir a península coreana e parte da China. Os Estados Unidos começarão a ocupar ilhas do Pacífico e o símbolo desta conquista será o Havaí. A Índia foi ocupada gradativamente por ingleses e franceses a partir do século XVIII. No entanto, os franceses tiveram que renunciar e conquistar mais territórios nesta região após a Guerra dos Sete Anos.

Assim, as zonas pertencentes à Grã-Bretanha ficaram sob a administração da Companhia das Índias Orientais, enquanto outras eram gestionadas sob regime de protetorado. Isto significava que muitos dos governadores locais, os marajás, mantiveram seu poder, mas a atividade agrícola passou a ser do cultivo de algodão e juta, destinadas às fábricas inglesas. Como consequência, os alimentos escassearam e houve fome no campo. Esta situação, aliada às crescentes medidas discriminatórias impostas pelas autoridades britânicas, levaram a sublevações como a Revolta dos Cipaios, ocorrida em 1857.

Os indianos foram derrotados dois anos depois e, entre as consequências da revolta, esteve o endurecimento do poderio inglês. A Companhia das Índias Orientais é dissolvida e a Índia é incorporada oficialmente ao Império Britânico, através da coroação da Rainha Vitória como Imperatriz da Índia, em 1876.

As imposições inglesas à China foram devastadoras. O governo chinês dificultou as transações comerciais de chá pleiteadas pela Grã-Bretanha, que encontrou no ópio a solução para a obter mais lucro. A substância, por seus efeitos devastadores, era proibida na Grã-Bretanha, mas foi vendida à população chinesa. Em pouco tempo, as pessoas se tornaram dependentes e o governo chinês fez um apelo aos britânicos que não o comercializassem mais. Tudo isso foi em vão. Como reação, os chineses queimaram em 1839 ao menos 20 mil caixas de ópio, no porto de Cantão. Em seguida, resolveram fechá-lo aos britânicos que tomaram esta atitude como uma agressão e declararam guerra ao país.

O episódio ficou conhecido como Guerra do Ópio e teve efeitos catastróficos para os chineses, obrigados a assinar, em 1842, o Tratado de Nanquim. O tratado determinava a abertura de cinco portos chineses para os ingleses e a transferência de Hong Kong para a Grã-Bretanha. O Tratado de Naquim foi o primeiro da série de "tratados desiguais" onde o Reino Unido tinha muito mais vantagens comerciais que a China. A França e os Estados Unidos aproveitaram a fragilidade da China para assinarem tratados comerciais com este país.

O golpe maior, porém, ocorreu em 1851, na Revolta de Taiping (1851-1864), motivada por questões religiosas, pela insatisfação dos camponeses com o governo imperial e com a invasão estrangeira. Os americanos e britânicos apoiaram militarmente o Imperador a fim de garantir futuras vantagens. Calcula-se que o conflito tenha deixado 20 milhões de mortos entre feridos de guerra, fome e doenças. A dinastia reinante jamais recuperou o prestígio após o conflito civil e ainda teve que conceder mais benefícios comerciais às potências europeias.

Em 1864, derrotados, os chineses viram seu território ser retalhado entre Alemanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão e Rússia. Nova derrota ocorreu após a Guerra dos Boxers, um movimento nacionalista chinês. Dessa vez, a China foi obrigada a aceitar a política de portas abertas, onde era obrigada a abrir todos os portos à comercialização de produtos estrangeiros.


Oceania

Último continente a ser encontrado pelos europeus e chamada de Novíssimo Mundo, a Oceania teve a primeira onda massiva de emigrados por volta de 6000 a.C. com a chegada dos austronésios oriundos de Taiwan. Eles se propagaram pelas Filipinas e Índias Orientais, até chegarem à Nova Guiné.

Já no período moderno, os britânicos anexaram a Austrália aos seus domínios em 1770, quando habitavam cerca de 300 mil nativos subdivididos em cerca de 600 tribos, as quais encontravam-se num estágio cultural muito primitivo, fato que facilitou a dominação pelos ingleses.

No século XVIII a ocupação foi feita por prisioneiros e exilados, bem como pelo estabelecimento de um número reduzido de colonos. Eles se dedicaram ao desenvolvimento da pecuária, uma das principais atividades até hoje. Além da pecuária (sobretudo a ovina) desenvolvera-se uma produção de trigo com sucesso.

Como resultado deste domínio, a população indígena decai. Os britânicos impõem sua cultura e seus modos de vida, fazendo com que os nativos se tornem a minoria no continente.

Referências


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