O ser mais inteligente do planeta


No princípio, tudo era escuridão, e então vieram os primeiros organismos e tudo estava indo bem. Depois surgiu o ser humano e aí o mundo nunca mais seria o mesmo.

Desde os tempos mais remotos a humanidade busca viver mais e melhor, sendo que para isso há sempre um preço a ser pago. Parte dessa dívida vem sendo rolada há muito tempo, mas a cobrança virá de um jeito ou de outro.

A partir de 70 mil anos atrás o homo sapiens exterminou os neandertais e todas as outras espécies humanas não só no Oriente Médio – onde viviam – mas em todo o planeta. Isso era apenas um pequeno ensaio do que estava por vir.

No período entre 70 mil e 30 mil anos atrás, a espécie humana já produzia barcos, lâmpadas a óleo, arcos, flechas e agulhas (essenciais para costurar roupas quentes). Os primeiros objetos que podem ser chamados de arte e joalheria datam dessa era, assim como os primeiros indícios incontestáveis de religião, comércio e estratificação social.

Ainda que a raça humana estivesse muito longe do estágio evolutivo atual, os antigos caçadores-coletores já provocavam mudanças drásticas por onde passavam, não poupando nem mesmo as florestas mais densas e os desertos mais desolados.

Durante 2,5 milhões de anos, os humanos se alimentaram coletando plantas e caçando animais que viviam e procriavam sem a sua intervenção. Tudo isso mudou a cerca de 10 mil anos, quando os sapiens começaram a dedicar quase todo o seu tempo e esforço para manipular a vida de alguns tipos de plantas e de animais.

Espécies que antes viviam em plena liberdade na natureza, passaram a ser encontradas somente em fazendas e abatedouros. 

Para que se pudesse dar continuidade à revolução agrícola, era necessário a apropriação de terras, e isso gerava disputa por parte dos habitantes de cada região resultando em atos violentos.

A multiplicação de crenças através dos tempos também foi ponto importante na divisão social. Com o tempo a religião teria forte influência política, seria motivo de guerras sangrentas e teria grande interferência no desenvolvimento da ciência provocando muitos entraves à evolução humana.

Consideramos mais fácil provocar uma grande guerra com a utilização de armas de grande poder de destruição do que criarmos soluções pacíficas. Precificamos praticamente tudo, mas pagamos com muitas vidas um pequeno território sem saber direito o verdadeiro valor de tal área.

Mergulhamos na busca contínua por conforto causando grande devastação do planeta e nos vemos obrigados a estarmos sempre atrás da cura para novas doenças que ajudamos a desenvolver através da nossa intervenção ilimitada no meio em que vivemos.

Devolvemos à natureza a matéria-prima dela extraída, porém, agora processada, resultando em um grande problema ambiental. 

O alimento antes encontrado in natura, a maioria dos humanos hoje só encontra em mercados e quase sempre tendo passado por um banho de agrotóxico.

Para poder, entre outras coisas, se alimentar, o ser humano de hoje precisa passar grande parte de seus dias trabalhando em ambientes cada vez mais inóspitos, sob intensa pressão, adquirindo doenças do mundo moderno que nos tiram o sono e nos trazem grande inquietação às vezes amenizada somente pelo consumo das chamadas drogas lícitas. 

Hoje em dia temos uma vida mais longa, é verdade. Mas será que com qualidade proporcional?

O capitalismo tem nos cobrado cada vez mais e nos compensado cada vez menos. Estamos nos sufocando e não sabemos como parar. O homem se tornou de fato o lobo do homem. Escravizamos, fazemos guerras, poluímos, pensamos sempre primeiro em nós mesmos deixando todo o resto em segundo plano, sempre nos autoproclamando o ser mais inteligente de que se tem notícia apesar de todos os problemas que criamos para este planeta. 

Será que realmente merecemos este título?

Referência

Yuval Noah Harari, Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, L&PM Editores, 2015.

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